terça-feira, 12 de abril de 2011

Faleceu no dia 11 de abril de 2011 nosso querido Pe Israel na cidade de Lavras - MG


"Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crer em mim, ainda que morra, viverá" (Jo 11, 25)
UMA ENTREVISTA MARCANTE

Lavras: Ele transformou a sua dor numa obra de amor aos mais necessitados!!!
21/02/2011
O nosso entrevistado de hoje é um homem santo que atende pelo nome de Padre Israel Batista de Carvalho, 61 anos de idade, pernambucano. Só posso dizer que foi uma bênção de Deus a oportunidade de fazer essa entrevista com este grande profeta do Senhor. Na verdade, não foi bem uma entrevista. Foi mais um “bate papo de amigos”, uma partilha da vida e das suas contrariedades. Foi um momento onde duas pessoas buscaram, através das experiências existenciais, compreenderem um pouco a vontade de Deus nos vários momentos das nossas vidas. Infelizmente, ao transcrever esta conversa para o papel, deparei-me com uma grande dificuldade: a frieza das palavras escritas. Por isso, coloco os momentos de emoção e de sentimentos aflorados para que você possa ter uma ideia de como essa conversa foi rica, profunda e cheia da graça de 
Deus.
Padre Israel mergulhou na sua história de vida. Reviveu momentos dolorosos. Falou das suas vitórias. Fez declarações apaixonadas ao Coração de Jesus. E mostrou-se como ser humano ao afirmar que “não gosta do câncer”, apesar ter aprendido muito com ele. O mais impressionante é que suas preocupações não estão voltadas para si mesmo, mas sempre para os outros. Ele não consegue viver uma fé intimista, pois para ele a espiritualidade passa necessariamente pelo amor aos mais necessitados. Foi isso que o motivou a fundar a Fazenda Senhor Jesus que cuida, trabalha, ama e recupera pessoas com dependência química. Um trabalho que exige antes de tudo amor ao ser humano, mas, principalmente, um amor inabalável e uma fé extraordinária no poder de Jesus. Essa entrevista busca revelar um Padre Israel humano, lutador, guerreiro, sofrido, mas, sobretudo, vitorioso pela graça de Deus. Vale à pena ler e conferir o melhor deste nosso bate papo!!!
O senhor e natural de onde e como foi a sua infância?
* Padre Israel: Eu sou natural de Recife, Pernambuco. A minha infância foi muito difícil, pois a nossa família era muito pobre, mas pobre mesmo. A minha mãe e o meu pai tomando conta de nove filhos, num lugar que não tinha emprego, não era algo muito fácil. Depois meu pai foi para São Paulo tentar a vida e a minha mãe teve que se virar lavando roupas para nos sustentar em Pernambuco. Muitas vezes eu e meus irmãos tivemos que pedir esmola para ter o que comer em casa. Hoje, têm pessoas que vem aqui na fazendinha pedir comida e, muitas pessoas, que não conhecem a realidade, os chamam de vagabundos. Eu passei por essa experiência e sei o quanto a fome e a necessidade são doloridas no coração e na barriga das pessoas e das famílias que não tem como se sustentar. Alguns podem até se aproveitar de mim, mas quem precisa e vem aqui, não sai de estômago vazio, pois eu ajudo mesmo. É uma forma concreta de amar e de fazer o bem a essas pessoas.
O senhor tem um carinho muito grande pela sua mãe e cuida dela hoje. Qual a importância que ela tem na sua vida pessoal e religiosa?
* Padre Israel: Minha mãe é um exemplo de uma mulher de fé e de uma mulher batalhadora. Ela ficou viúva cedo, era bonita e poderia ter arrumado alguém para viver junto com ela, mas ela não o fez para cuidar de nós, seus filhos. Lembro que lá no Recife, no período dos festejos juninos, os vizinhos estavam festejando e comendo bolos e quitutes de São João. Minha mãe saiu em silêncio, pegou a aliança de casamento dela e do meu pai e vendeu para que a gente tivesse o que comer. Depois perguntamos a ela se ela tinha comido e ela disse que sim. Hoje sabemos que não, pois não sobrou nada e ela foi dormir com fome. Ela é uma mulher especial. Minha mãe cuidou de uma das minhas irmãs que tem problemas neurológicos. Tirou-a do sanatório, numa situação desumana e a levou para dentro de casa, e disse para todos nós: “a irmã de vocês pode fazer o que quiser que ninguém irá agredi-la, apenas amá-la”. E o amor dedicado a minha irmã fez com que ela melhorasse muito. No sentido do amor eu tive uma grande escola dentro da minha própria casa que foi o exemplo da minha mãe..
Por que a sua família veio para São Paulo?
* Padre Israel: Para ter condições de vida. No Recife não tinha emprego e viemos para São Paulo em busca de uma nova oportunidade, porque não era fácil cuidar de nove filhos, sendo desempregado. Infelizmente, meu pai faleceu pouco tempo depois e minha mãe teve que cuidar sozinha de todos nós. Eu tinha 12 anos quando cheguei à São Paulo e acabei tendo que ajudar a minha mãe. Assumi tipo um “papel de pai substituto”, cuidando dos meus irmãos e ajudando a minha mãe nas despesas da casa, pois tudo o que eu ganhava no trabalho era para ajudá-la a manter a família.
E como você sentiu o chamado para ser sacerdote, consagrar a sua vida a Deus?
* Padre Israel: Eu morava no bairro da Vila Maria em São Paulo e jogava futebol na Congregação dos Marianos. Eu tinha 21 anos e nem tinha feito a 1ª Comunhão ainda. Eu lembro que eu rezava o terço todos os dias, por isso que eu acredito que a minha vocação é uma graça de Maria na minha vida. Então, no intervalo do jogo eu procurei o responsável pela Congregação Mariana e disse que queria fazer a 1ª comunhão. Ele me preparou e eu a fiz com muito amor no coração. Depois, fui conversar com o Padre Alírio Pedrini, na época, o responsável pelo setor da juventude. Ele me orientou a estudar e cuidar da minha mãe primeiro, para depois entrar no seminário. Eu não tinha dinheiro para estudar. Então fiz um supletivo e terminei o colegial. Lembro que houve uma campanha da Fraternidade onde nós jovens assumimos o compromisso de construir uma casa para uma família necessitada, nesta época, eu era o coordenador da juventude nos trabalhos sociais. Quando acabamos de construir a casa, sem que eu soubesse de nada, a Paróquia me deu o dinheiro para que eu construísse a casa para a minha mãe e pudesse ir para o seminário, em 1976.
O senhor sentiu algum tipo de preconceito, por ser negro, numa Congregação majoritariamente de descendentes europeu?
* Padre Israel: Senti sim, mas hoje eu vejo que era muito mais coisa da minha cabeça, dos meus complexos do que a realidade. Eu sofri muito principalmente na Filosofia, onde os meus companheiros eram louros dos olhos azuis e muito inteligente. Eu era um negão que mal sabia o beabá. Foi muito difícil para mim nessa época. Porém os fratres me ajudaram muito, batiam na porta do meu quarto e me chamavam para estudar com eles. Pareciam que eles falavam outra língua. Eu não entendia nada, mas com dois meses eu já estava me superando e tirando notas que eu jamais acreditaria que conseguiria. Eles foram muito carinhosos e solidários comigo..
Quando e onde o senhor se ordenou sacerdote?
* Padre Israel: Eu me ordenei Sacerdote no dia 11 de dezembro de 1982, na Igreja de Nossa Senhora da Candelária, no bairro da Vila Maria, em São Paulo. E no dia 12 de dezembro, no outro dia, celebrei a minha primeira missa, com a graça de Deus. Foi uma experiência maravilhosa, pois eu só me tornei sacerdote pela misericórdia de Deus, pois eu não tenho mérito humano nenhum para ser um escolhido de Deus. É tudo graça e bondade Dele que é o nosso Deus e Pastor.
O seu primeiro trabalho como padre foi aqui em Lavras?
* Padre Israel: Sim, eu vim para trabalhar no Colégio Aparecida. Eu lembro que foi falado que eu não vinha para ser professor, o que me deixou um pouco chateado, pois demonstrava a minha falta de capacidade intelectual. Mas como Deus é fantástico, por umas reviravoltas da vida eu acabei entrando na sala de aula e dando a minha contribuição, apesar da minha ignorância, do meu pouco preparo e da minha boa vontade. Mas tudo isso pela graça de Deus, porque humanamente, eu não sou nada.
O senhor teve uma história de vida sofrida e hoje cuida de pessoas com essas mesmas características. Como foi fundar a Fazendinha Senhor Jesus para cuidar de dependentes químicos?
* Padre Israel: É interessante, mas desde que eu entrei no seminário eu sempre tive uma compreensão muito grande do sofrimento humano. Por isso, trabalhando no Colégio Aparecida e na Paróquia Sant’Ana eu vi a necessidade de se fazer algo por essas pessoas que estavam abandonadas e sofrendo todas as conseqüências da dependência química. Eu tinha que fazer alguma coisa, eu tinha que mostrar a eles que eu os amava, porque eu amava o Senhor. Então fundamos essa obra que tem sido uma benção na minha vida e na vida desses meus filhos. Não tem sido fácil, mas com a graça de Deus nós estamos vencendo a nossa batalha de cada dia. Hoje os sofrimentos deles são também o meu sofrimento. A luta deles é também a minha luta…
Atualmente o senhor tem lutado contra o câncer, o que ele significa na sua vida?
* Padre Israel: Sem nenhum tipo de demagogia, ele é uma benção e uma graça na minha vida. Esse câncer tem me ajudado a compreender muitas coisas e me ensinado a ser uma pessoa melhor e mais humilde. Ele me ensinou a aceitar ajuda dos outros, a ser menos autosuficiente e a me unir as pessoas que, assim como eu, estão doentes. Até aqui na fazendinha o câncer tem feito milagre [pausa... choro!!!], pois os meninos dizem assim: “se o padre que só fez o bem está sofrendo tanto, nós precisamos ser melhores por ele agora”. E mudando de assunto um pouquinho, eu sempre gostei de cantar aquela música que dizia: “Vitória, tu reinarás. Oh cruz, tu nos salvará”. E eu passei a compreender que a vitória passa pela cruz. O sofrimento não nos derrota, ao contrário, ele nos indica o caminho da Ressurreição e nos une ao sofrimento de Cristo pela humanidade. É assim que eu vejo o câncer hoje.
O senhor fará uma cirurgia e tem o risco de perde a perna. Isso o preocupa?
* Padre Israel: Sinceramente não. Alguém outro dia me disse que nós somos muito apegados a nossa perna. Que vá a perna, mas que fique a vida. Isso é o que me motiva hoje. Confesso que não gostaria de ter esse câncer, ele está aí, eu não gosto dele e quero tirá-lo de mim. É a única coisa que eu odeio é o câncer. Mas peço como Jesus: “Pai afasta de mim este cálice, mas que em tudo seja feita a Tua vontade”. E outra coisa, a canção “Vitória, Tu reinarás”, me faz ter a certeza de que a vitória não é minha, mas de todas as pessoas que estão vivendo este momento de dor comigo e me ajudando de uma forma maravilhosa. Confesso que eu não mereço esse carinho e nem atenção dessas pessoas. Elas devem fazer isso por serem misericordiosas e mais santas do que eu.
Sei que essa é uma pergunta que muitas pessoas gostariam de fazer: Quem é Deus para o Padre Israel?
* Padre Israel: Deus é amor, como diz São João [pausa... choro!!!]. Como eu gostaria que as pessoas descobrissem essa verdade. Deus é amor e esse amor passa pelo próximo. Seja ele rico ou abandonado, mas eu preciso amar como o Senhor amou. Vejo que agora chegou o meu limite. Gostaria de trabalhar com os meninos, de rezar com eles, de lavar a louça, mas a dor tem sido mais forte. E eu sou muito sincero nisso. Quando eu não agüento, eu falo e peço para que eles me ajudem. Eu sempre dizia que eu estava cuidando deles e que chegaria um dia que eles cuidariam de mim. Esse dia chegou. E sou cuidado por eles e por Deus o tempo todo. Sinto Deus comigo a cada segundo, a cada momento de dor e de alegria. O Senhor nunca me abandonou.
Quando o Papa João Paulo II estava doente, perguntaram se ele tinha medo da morte e ele respondeu que sim. O senhor tem esse medo?
* Padre Israel: É interessante, mas muitas vezes eu me pego questionando sobre isso e bate uma incerteza. Porém com a minha fé, eu acredito que Deus tem reservado um lugar para mim. Eu não amaria um Deus que me deixaria esquecido num túmulo. Eu jamais amaria um Deus que não me desse à alegria de viver. Aliás, o meu Deus é o Deus da vida e da alegria. É nas mãos dele que eu depositei a minha vida [pausa... choro!!!]. Deus é fantástico…
Como o senhor analisa a família e os jovens de hoje?
* Padre Israel: Sinceramente eu vejo com angústia. Eu vejo com uma profunda preocupação a maneira leviana e imediatista com que os jovens estão buscando o prazer a todo custo. Não existe prazer sem amor, prazer sem amor é egoísmo. Quantos casais estão abandonando seus filhos porque o esposo arrumou uma amante ou a esposa que viver uma aventura sexual e joga tudo fora, como se os filhos pudessem ser descartáveis. Por outro, lado, vejo que os jovens estão se cansado dessa vida. Como eu me alegro com Deus e com essas pessoas quando eu vejo o trabalho dos Jovens Universitários, do Emaús, da Renovação Carismática. O seu trabalho Dieikson, evangelizando a juventude da nossa cidade. Tudo isso me enche de esperança de que as coisas um dia vão mudar. Um dia teremos um só Pastor, uma nova terra e um novo céu. Eu acredito firmemente nisso…
Alguns o consideram “santo”, outros o chamam de “homem de Deus” e muitos o admiram pelo seu incansável trabalho. Mas quem é o Israel, não o padre, mas a pessoa humana?
* Padre Israel: Pecador. Eu não passo de um pecador. Eu acho que eu não amei o Coração de Jesus como deveria ter amado [pausa... choro!!!]. E confesso que eu gostaria de amá-Lo mais, mais e mais… Por isso eu digo que sou um pecador, mas com uma vontade imensa de acertar. Eu tenho muitos erros, muitas falhas, mas o Senhor sabe que eu tenho buscado querer acertar. E eu gostaria de pedir mesmo a Deus a possibilidade amá-Lo mais e mais. Eu acho que com relação a isso eu fui muito falho ainda, mas com a graça de Deus a gente chega lá.
Qual a mensagem que o senhor deixaria para os nossos leitores do Jornal A Gazeta que hoje estão tendo a oportunidade de conhecê-lo de uma forma muito intima e muito humana?
* Padre Israel: Como São João falava: “ame o Senhor de todo o coração e não deixe que nada o desanime”. Saibam que o sofrimento não é maior que o amor de Deus. Que Jesus seja a luz da vida de cada pessoa e traga muita paz e sabedoria a todos nós. Gostaria de aproveita para agradecer ao Passos, a você Dieikson, e o Ricardo que também faz parte da equipe, como a todos os jornalistas e colaboradores da Gazeta que se preocupam comigo, assim também como os cidadãos de Lavras. Sem demagogia alguma, eu não mereço nada disso. Eu sou um pobre pecador. Se acaso existe algo de bom em mim é por bondade e misericórdia de Deus, eu sou apenas um miserável. Mas agradeço a todos que tem ajudado e contribuído com a fazendinha neste momento difícil que estamos passando. Que Deus abençoe a cada um de vocês…
Fonte:  Prof. Dieikson de Carvalho
Pastoral da Comunicação
Entrevista publicada no Jornal A Gazeta
http://www.lavras24horas.com.br/portal/lavras-ele-transformou-a-sua-dor-numa-obra-de-amor-aos-mais-necessitados/
http://blog.cancaonova.com/padrejoaozinho/2011/04/12/faleceu-pe-israel-em-lavras-mg/






Nenhum comentário:

Postar um comentário